DOMINGO DE RAMOS
“Levanta-te agora, alma minha, escrava do Salvador, junta-te ao cortejo das filha de Sião para ver o teu Rei. Acompanha o Senhor do céu e da terra, sentado num jumentinho, segue-o sempre com ramos de oliveiras e de palmas, com obras de piedade e virtudes vitoriosas.”
São Boaventura
Estação em São João de Latrão
Introdução:
A Liturgia de hoje exprime duas cerimônias, uma cheia de alegria, a outra, de tristeza, os dois aspectos sobre os quais a Igreja considera a cruz. Primeiramente, a bênção e procissão dos ramos, a transbordar de santa alegria que nos permite, após vinte séculos, reviver a cena grandiosa da entra triunfal de Jesus em Jerusalém.
1 – Bênção dos ramos – Procissão
Em Jerusalém, no IV século, era lida neste domingo, e no lugar do acontecimento, o trecho do evangelho que se refere à entrada de Cristo na cidade santa, aclamado pelas turbas Rei de Israel. Depois o bispo, montando num jumento, ia do Monte das Oliveiras à Igreja da Ressurreição, acompanhado do povo, com palmas na mão, ao canto de hinos e antífonas. A Igreja de Roma adotou este costume por volta do século IX e ajuntou-lhe a bênção dos Ramos. Na procissão dos ramos, o povo cristão, na plenitude da sua fé, repete o gesto dos judeus, dando-lhe todo o seu significado. Como o povo de Jerusalém, aclama a Cristo como triunfador: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!” Mas, conhecedores, pela fé, da sequência e significado dos acontecimentos, sabemos o que é e o que representa este triunfo. Jesus é o Messias, Filho de Davi e Filho de Deus. Sinal de contradição, é aclamado por uns, detestado por outros. Enviado ao mundo para nos arrancar do pecado e do poder de Satanás, sujeita-se à Paixão, castigo dos nossos pecados, mas sai triunfante do sepulcro, vencedor da morte; restitui-nos a paz de Deus e induz-nos consigo no reino do Pai celeste.
2 – Missa do Domingo de Ramos
A bênção dos ramos realizava-se em Santa Maria Maior, que em Roma representa Belém, onde nasceu aquele a quem os magos proclamaram o Rei dos Judeus. A procissão dirigia-se dessa Igreja à de São João de Latrão. Nessa Basílica fazia-se outrora a Estação: dedicada ao Santíssimo Salvador, ela evoca a lembrança da Paixão, da qual a Missa nos ocupa. O triunfo do Salvador deve ser precedido “de sua humilhação até a morte e morte de cruz” (epístola) que nos servirá de modelo “a fim de que, aproveitando as lições de sua paciência, participemos também de sua Ressurreição” (oração).
Fotos do Domingo de Ramos
QUINTA-FEIRA SANTA
“Ó Pai Santo que estais nos céus, se o vosso Filho não deixou de nos dar a nós, pobres pecadores, um dom tão grande como a Santíssima Eucaristia, não permitais, ó misericordiosíssimo Senhor, que seja tão maltratado! Ele deixou-se ficar entre nós de um modo tão admirável que podemos oferecê-lo em sacrifício quantas vezes quisermos. Então que este augustíssimo sacrifício faça para a maré dos pecados e desacatos que se cometem nos lugares onde este Santíssimo Sacramente reside”.
Santa Teresa de Jesus
MISSA CRISMAL
Estação em São João de Latrão
Introdução:
Outrora celebravam-se neste dia três Missas: a primeira para a reconciliação dos penitentes, a segunda para a bênção do Santos Óleos, e a terceira comemorativa da instituição da Eucaristia, na Última Ceia. Havendo caído em desuso a disciplina penitencial, deixou de se celebrar a missa para reconciliação dos penitentes. A Missa Crismal também tinha desaparecido; mas foi novamente restaurada com a reforma da Semana Santa.
A bênção dos Santos Óleos é uma das mais antigas e mais belas cerimônias da liturgia. Desde o princípio foi reservada ao Bispo, como é ainda hoje no rito latino. Faz-se esta bênção dentro da Missa, celebrada pelo Bispo na sua Catedral, na Quinta-feira de manhã.
Para esta cerimônia, o Bispo é assistido de sete Diáconos e sete Subdiáconos, a exemplo da Missa Papal, e de mais doze Presbíteros, a recordar o Colégio Apostólico.
O Óleo dos Enfermos é benzido antes do Pater Noster; o Santo Crisma e Óleo dos Catecúmenos, depois da comunhão. O Santo Crisma é matéria dos Sacramentos da Confirmação, e usa-se também no Batismo, ordenação dos Bispos, dedicação das igrejas, sagração dos altares, cálices, patenas, bênção da água batismal e bênção dos sinos. O Óleo dos Catecúmenos emprega-se no Batismo, nas Ordenações e também na bênção da água batismal.
O óleo tem múltiplo simbolismo, o que explica a sua escolha e emprego: alimenta a chama brilhante, serve de remédio na cura dos enfermos, de unção fortificante do atleta. Daí que sugere, muito naturalmente, a ideia de iluminação, de alívio, de força, de que virá a tornar-se, no sacramento, sinal eficaz.
Fotos da Missa Crismal
MISSA IN COENA DOMINI
Estação em São João de Latrão
A Igreja que, pela justaposição da missa dos catecúmenos com a dos fiéis, celebra na Eucaristia, durante o ano, todos os mistérios da vida de Jesus, pretende-se hoje à lembrança da instituição mesma desse inefável Sacramento e do sacerdócio católico. Essa Missa realiza de modo todo especial a ordem dada por Jesus a seus discípulos de renovar a última ceia. No momento em que conspiravam a sua morte, o Salvador inventava o segredo de imortalizar entre nós a sua presença. A Igreja, suspendendo um instante o luto, celebra o Santo Sacrifício deste dia com a santa alegria. Cobre o crucifixo com um véu branco, reveste os seus ministros com paramentos de festa, canta o Glória e ressoam todos os sinos. Terminado esse hino, emudecem os sinos até o Sábado Santo. Celebra-se neste dia uma única missa por igreja. Isso tem por finalidade recordar que há um só sacerdócio, a quem Jesus confiou o múnus de renovar perpetuamente o seu Sacrifício. Na epístola, depois de lembrar certos abusos provenientes do costume mais tarde abolido, de tomar a refeição eucarística em seguida à refeição-banquete, como Jesus fizera, S. Paulo nos ensina que a Missa é o “Memorial da morte de Jesus”. O Sacrifício do altar era necessário para nos unirmos à Vítima do Calvário e nos apropriarmos de seus méritos. A Eucaristia, cuja virtude provém do sacrifício da Cruz dá-lhe, por sua vez, universalidade de tempo e lugar que não possuía. Nas orações do Cânon da Missa, no Communicantes e no momento mesmo da Consagração, a Igreja evoca com emoção a memória de Jesus ao instituir e celebrar o sacrifício de ação de graças na véspera da sua Paixão.
Amar o Santíssimo Sacramento é “glorificar-se na Cruz de Jesus”. O Salvador encarrega-se de fazer as abluções prescritas pelo judeus à refeição para mostrar a pureza e a caridade que Deus pede dos que querem comungar, pois, à semelhança de Judas aquele que come desse pão indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Depois da Missa, desnuda-se o altar para significar que o Sacrifício está suspenso e que, até Sábado, não será oferecido a Deus. Nesta Quinta-feira Santa, quando a Epístola e o Evangelho narram os pormenores da instituição do Sacerdócio e Sacrifício Eucarístico, recebamos das mãos do sacerdote a Santa Vítima imolada sobre o altar, e teremos santamente cumprido nosso dever pascal.
1 – Lava-pés ou Mandato
A exemplo de Cristo, que lavou os pés dos Apóstolos, o celebrante lava os pés de doze homens. A Igreja inculca-nos o ensinamento do Senhor. Eis até onde deve chegar o amor do próximo: o servo não está acima do Senhor; o que o Mestre fez, é para ele o fazer também.
Enquadrada assim na Paixão, essa lição é concludente. O dever de bondade e perdão, o serviço dos outros, são coisas que para o cristão não conhecem limites. Amado por Deus, ele tem, por sua vez, de amar os seus irmãos; perdoado, de perdoar. Exigência absoluta de adotar essa lei, sob pena de não ter parte com Cristo, sob pena de vir a ser, finalmente, excluído do seu reino. Talvez não haja no Evangelho ensinamento mais essencial.
Fotos da Missa In Coena Domini
SEXTA-FEIRA SANTA
“Ó Cristo, Filho de Deus, contemplando a dor imensa que suportastes por nós sobre a cruz, parece ouvir-vos dizer à minha alma: ‘Não foi por engano que te amei!’. Estas palavras abrem os meus olhos e vejo claramente que tudo quanto fizestes por mim, em virtude deste amor. Vejo quanto sofrestes na vida e na morte, ó amantíssimo Homem-Deus, por causa deste amor profundo e invencível. Sim, ó Senhor, vós não me amastes por engano, mas com um amor perfeitíssimo e verdadeiro. E em mim vejo o contrário, pois amo-Vos com tibieza e sem vontade, e conhecê-lo é para mim uma pena insuportável.”
Santa Ângela de Foligno
MEMÓRIA DA PAIXÃO E MORTE DO SENHOR
Estação em Santa Cruz de Jerusalém
Introdução:
A Sexta-feira Santa é dia de grande luto. Cristo morreu. Consequência do pecado, o império da morte sobre todas as vidas humanas estende-se ao próprio Chefe da humanidade, o Filho de Deus feito homem.
Mas, todos cristãos o sabem muito bem, essa morte, que Jesus partilhou conosco e que para Ele foi tão atroz, estava nos planos de Deus com relação à salvação do mundo. Imposta pelo Pai ao seu Filho, foi por esse aceite para nosso resgate. Dessa forma, a Cruz de Cristo tornou-se a glória dos cristãos. Já ontem cantávamos: “Toda nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”; e hoje a Igreja repete, apresentando essa mesma Cruz à nossa adoração: “Eis o madeiro da Cruz, em que esteve suspensa a salvação do mundo!” E aqui temos como Sexta-feira Santa, ainda que seja dia de luto, é também o dia em que aos homens se restituiu a esperança, dia que conduz às alegrias da ressurreição.
A estação é na basílica que, em Roma, representa Jerusalém, da qual tem o nome. É consagrada à Paixão do Salvador e contém terra do Calvário, fragmentos importantes do lenho da verdadeira Cruz, e um dos pregos que serviram para crucificar Jesus.
SOLENE AÇÃO LITÚRGICA
I PARTE: LEITURAS
A 1ª parte da liturgia lembra as reuniões que faziam no dia do Sabbat nas Sinagogas. As primeiras comunidades cristãs, compostas de judeus convertidos, aí se inspiram fazendo, porém, as necessárias modificações. Juntou-se em breve ao Sacrifício Eucarístico. É a missa dos Catecúmenos, em que lhes anuncia (1ª leitura) que as misericórdias de Deus vão logo descer sobre o povo cristão, como também os castigos sobre o povo infiel (Efraim e Judá) pois, na hora mesma em que “a multidão dos filhos de Israel há de imolar o Cordeiro de Deus sobre a Cruz. A Paixão, segundo S. João, nos descreve essa morte.
II PARTE: ORAÇÕES SOLENES
A segunda parte de liturgia de hoje é uma lembrança das orações ditas outrora nessas reuniões, e das quais não encontramos, exceto na Sexta-feira Santa, na liturgia romana, mais que o vestígio no Oremus que precede o Ofertório.
Essas orações litúrgicas mostram que os efeitos da morte de Jesus se estendem a todas as necessidades da Igreja e do gênero humano, fazendo mesmo prever a conversão do povo deicida, o qual um dia reconhecerá que Jesus é o Messias.
III PARTE: SOLENE ADORAÇÃO DA CRUZ
Esse rito tem a sua origem no uso que havia em Jerusalém no séc. IV, de venerar nesse dia o madeiro da verdadeira Cruz, enquanto se cantava, em grego (temos vestígio na liturgia de hoje), os Impropérios ou ternas admoestações dirigidas por Cristo ao seu povo, ao qual ele só havia feito bem.
IV PARTE: COMUNHÃO
A Sexta-feira Santa é o dia do aniversário da morte de Jesus. Neste dia em que se destaca perante o mundo inteiro o trono da Cruz, do alto do qual o Deus-Homem reina, a Igreja não celebra a Santa Missa, porque ela é o memorial desse mesmo drama; contenta-se, como é uso no rito grego durante a Quaresma – à exceção do Sábado e Domingo – em consumir as Santas Espécies já precedentemente consagradas. Daí o nome de Missa dos Pré-Santificados.
Fotos da Solene Ação Litúrgica
SÁBADO SANTO
“Ave, ó Cruz, nossa única esperança! Tu aumentas a graça aos justos e perdoas as culpas aos pecadores, ó árvore gloriosa e refulgente, adornada com a púrpura do Rei, nos teus braços esteve suspenso o preço da nossa Redenção, em ti está a nossa vitória e o nosso resgate.”
Breviário Romano
Estação São João de Latrão
Introdução:
A liturgia da noite pascal era noutros tempos uma das mais importantes do ano. Durante a tarde do Sábado Santo, reunia-se a assembleia cristã na Igreja de São João de Latrão, para o último escrutínio dos catecúmenos. Depois, com o Batismo solene: submergidos ou sepultados com Cristo nas águas batismais, os neófitos nasciam para a vida da graça à hora em que o Salvador saíra triunfante do túmulo, ao alvorecer do dia da Páscoa. Seguia-se a Missa: toda a comunidade dos fiéis celebrava o sacrifício da Redenção, em ação de graças e nas alegrias da ressurreição.
No século XIII, começou a celebração da Vigília Pascal a ser antecipada para o sábado de manhã. Após a reforma da liturgia da Semana Santa, feita pelo Papa Pio XII, a Vigília voltou para o meio da noite de Páscoa. Voltando assim ao seu verdadeiro lugar, a antiga liturgia readquire todo seu significado e permite ao povo cristão reviver, com mais perfeita compreensão o mistério da graça e de luz em que se renova, de ano para ano, a vida dos batizados.
I PARTE: BÊNÇÃO DO FOGO
Introdução:
A Igreja que benze todos os elementos de que se serve para o culto divino, costumava benzer todas as noites o fogo novo que devia fornecer a luz para o Ofício de Vésperas. A liturgia do Sábado Santo guardou esse uso. Também se benze os grãos de incenso a serem inseridos no Círio pascal e cuja oferta a Deus será, então, aceita em odor de suavidade. À hora conveniente, cobrem-se com toalhas os Altares, mas as velas permanecem apagadas até ao começo da Missa. Tira-se fogo de uma pedra, fora da igreja, e ascendem-se carvões. O Padre, enfim, benze o fogo novo.
II PARTE: LITURGIA BATISMAL
Introdução:
Por meio das leituras escolhidas entre as melhores páginas do Antigo Testamento, completa a Igreja a preparação dos catecúmenos para a recepção do sacramento do Batismo. Acompanhadas das admiráveis orações que lhe servem de comentário, estas leituras recordam o grandioso plano de Deus na obra da nossa redenção; proclamam a regeneração em Cristo: nova criação, passagem do Mar Vermelho, figura do Batismo, incorporação dos cristãos na Igreja.
III PARTE: MISSA PASCAL
Introdução:
A Santa Igreja, depois de nos ter feito reviver a graça do Batismo, convida-nos a oferecer com ela o Santo Sacrifício da Missa. É a ação de graças dos redimidos: no mistério da celebração eucarística, oferece a Deus o Sacrifício do Calvário, em que o Cordeiro Pascal, imolado para a salvação do mundo, nos obteve a redenção.
Esta missa canta a alegria da ressurreição. Entoado o Gloria in excelsis Deo, toca o órgão e os sinos, que tinham se calado desde a Quinta-feira Santa. Depois da Epístola, sente-se a alegria transbordar, à tríplice entoação do Alleluia, cantado pelo celebrante e repetido pelos fiéis, seguido logo pelo entusiástico Confitemini e o salmo Laudate, em que a alegria pascal não conhece limites.
Fotos do Sábado Santo
DOMINGO DE PÁSCOA
“Senhor Jesus, Jesus piedoso, Jesus bondoso, que vos dignastes morrer pelos nossos pecados e ressuscitastes para a nossa justificação, eu vos rogo, pela vossa gloriosa Ressurreição, que me ressusciteis do sepulcro dos meus vícios e pecados para que eu mereça participar verdadeiramente na vossa Ressurreição.”
Santo Agostinho
Estação em Santa Maria Maior
Introdução:
Exatamente como no Natal, é em Santa Maria Maior que se faz a estação desta festa, a maior de todo ano.
A Igreja não separa nunca Jesus de Maria e glorifica hoje com a mesma apoteose o Filho e a Mãe.
Jesus ressuscitado dirige-se em primeiro lugar ao Pai, em homenagem de sujeição incondicional, enquanto a Igreja, por seu lado, levanta a Deus um hino de sentido reconhecimento e lhe suplica que venha em socorro dos filhos que lutam com o mundo, o demônio e a carne, a caminho da pátria nova dos céus. Mas para isso é necessário comer o Cordeiro Pascal com os ázimos da virtude, de uma vida santa e impoluta. O Evangelho apresenta-nos as santas mulheres correndo ao sepulcro para ungir o Mestre com perfumes. Corramos também com a alegria de ressurgidos a ungir com o nosso amor e a nossa fidelidade à virtude o coração do Mestre, não morto, porque é imortal, mas alanceado, dilacerado pelos crimes do nosso tempo e, possivelmente, da nossa má conduta.
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