“Vida e doçura nossa, salve!”

Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini

Quando rezamos a Salve Rainha, esta oração antiqüíssima dirigida a Nossa Senhora, nós a chamamos de “nossa vida” e “nossa doçura”. Por que lhe damos estes títulos?

1-      Vida.

Nós a chamamos de nossa vida, em primeiro lugar porque Ela nos trouxe a Vida. “Per te nobis data est Vita pérdita”canta a Sagrada Liturgia, “por ti nos foi dada a Vida que tínhamos perdido”.

Nossa Senhora aparece assim como o oposto de Eva. Eva deveria ser a mãe de todos os vivos, mas em vez de trazer-nos a vida, ela introduziu a morte no mundo.

Eva foi a companheira de Adão para nossa perdição. A Virgem Maria se uniu a seu Filho, como nossa corredentora, para nossa salvação.

Qual a vida Nossa Senhora nos traz?

– A vida que é Seu Filho:

Jesus, filho de Maria, disse de Si mesmo: “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Deus nos concedeu a Vida que é Ele mesmo. Mas, no mistério da encarnação do Verbo, Maria teve o privilégio de conceber, em seu seio virginal e puríssimo, por obra do Espírito Santo, o Verbo de Deus. Ela foi a Mãe de Deus, a mãe da Vida. Maria deu vida à Vida, como também ensinou a falar, o próprio Verbo de Deus.

– A vida da Graça: A Vida que nasceu de Nossa Senhora, disse no Evangelho: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância”.

A graça a é uma participação na vida divina.

Não existiria a chuva benéfica que fecunda a terra sem a nuvem que a condensa em seu seio e a esparge suavemente; nem os saborosos frutos que nos alimentam, sem a árvore que os produz; nem as frescas águas do riacho, que fertilizam a pradaria e apagam a sede dos fatigados viajantes, sem o manancial de onde se origina; assim também não teríamos sido regenerados na vida sobrenatural da graça – por meio da Redenção, primeiro, e dos Sacramentos depois – se não existisse a Santíssima Virgem, ou se Ela não tivesse dado seu sim ao Anjo quando este lhe anunciou o mistério da Encarnação.

– Nossa Senhora é canal da vida para nós.

É verdade que Deus poderia ter vindo ao mundo por muitos meios. Ele, Sabedoria infinita,- nos ensina São Luis Maria Grignion de Montfort – escolheu o melhor meio, o mais sábio, o mais perfeito, o mais curto de todos os caminhos, para vir a este mundo. E esse caminho melhor, mais perfeito, mais sábio e mais curto, foi vir até nós por meio da Virgem Maria, encarnando-se em seu seio.

E nós nos tornamos participantes desta Vida que a Virgem Maria nos trouxe pelo nosso batismo.

Assim como o ferro posto no fogo adquire qualidades do fogo — luz e calor – embora continue a ser simples ferro, assim nós, pelo Batismo, adquirimos qualidades divinas, continuando a ser puramente humanos. Ora, essa vida divina que recebemos no Batismo, pela aplicação dos méritos infinitos da redenção de Cristo, na Cruz, nós só pudemos obtê-la, porque Maria Santíssima aceitou ser Mãe do Deus encarnado, Mãe da Vida. Portanto, só participamos da Vida divina por causa de Nossa Senhora, que foi o meio que Deus quis usar para vir ao mundo, para nos salvar. Maria é, pois, a causa instrumental de nossa vida mais alta e mais perfeita, que é a vida sobrenatural, que nos foi obtida por Cristo. Por isso, nós a chamamos de vida, na Salve Rainha, porque toda nossa vida sobrenatural, que nos foi dada por Cristo, chegou até nós pelo canal que é a Virgem Maria.

2- Doçura.

– Maria é para todos os homens a doçura.

Chamamos doce tudo o que nos agrada, tudo o que é proporcionado aos sentidos. Doce é tudo o que é proporcionado a nós. E nada é tão proporcionado ao ser humano, qualquer seja ele, do que Maria, o ser puramente humano, o mais perfeito que possa existir. Cristo, embora homem, é também Deus infinito. Maria é a doçura da humanidade.

– Nossa Senhora é chamada doçura por sua bondade, mansidão, paciência e misericórdia.

Vemos sua bondade ao visitar sua prima Isabel; vemos sua paciência nas dores que passou em sua vida; vemos sua misericórdia nas bodas de Caná.

– Nossa Senhora é doce, pela confiança que nos inspira: ela não assusta, ao contrário, nos atrai.

– Ela é doçura porque traz a paz aos nossos corações, alcançando-nos o perdão de Deus, e tantas graças de que necessitamos.

– Ela é doçura, porque vai nos confortar na hora de nossa morte.

 Podemos comprovar tudo isso olhando a vida dos Santos: como eles foram confortados por Nossa Senhora durante a vida e mais ainda na hora da morte.

Termino citando uma linda oração de S. Francisco de Sales a Nossa Senhora.

“Tende sempre presente na memória e na lembrança, ó Virgem dulcíssima, que sois vós minha Mãe, e eu sou vosso filho; que vós sois poderosa e eu não passo de um pobre ser humano, miserável e fraco.

Não digais, Virgem cheia de graça, que não podeis; porque vosso querido Filho vos deu todo poder, tanto no céu como na terra.

Se não pudésseis, eu vos desculparia, dizendo: É verdade que Ela é minha Mãe e me ama como filho seu, mas sua pobreza não tem meios nem poder.

Se vós não fôsseis minha Mãe, com razão eu me resignaria, dizendo: ela é muito rica, bem me pode socorrer; mas ai! Não sendo minha Mãe, ela não me quer bem.

Mas, ó Virgem Dulcíssima, já que sois minha Mãe e sois poderosa, como poderia eu desculpar-vos de não me valer e de não me prestar socorro e ajuda?

Para honra e glória de vosso Filho, aceitai-me como filho vosso também, sem terdes em conta minhas misérias e meus pecados. Livrai minha alma e meu corpo de todo o mal e enriquecei-me de todas as virtudes, principalmente a humildade.

Enfim, fazei-me presente do todos os dons que são do agrado da Santíssima Trindade.  Amém”.

*Pe. Gaspar S. C. Pelegrini é Reitor do Seminário da Imaculada Conceição

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