Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini
A festa de São Mateus Apóstolo que celebramos hoje nos convida a refletir sobre a gratuida de das escolhas de Deus.
Deus ama de modo incondicional e totalmente gratuito. O mesmo se pode dizer de suas escolhas, e por isso mesmo, de nossa vocação.
O chamado de São Mateus, narrado por ele mesmo no cap. 9, vers. 9 de seu Evangelho nos confirma esta verdade da gratuidade das escolhas de Deus. Jesus viu um homem, chamado Mateus, em seu local de trabalho, o telônio, ou seja, o lugar onde ele cobrava os impostos, pois era publicano, isto é, cobrador de impostos para os romanos. Esta profissão era exercida muitas vezes com tanta desonestidade que publicano se tornou sinônimo de gente ruim, de pecadores.
E Jesus chamou este pecador. Chamou não só a abraçar o Evangelho, mas a se tornar um de seus Apóstolos, um pregador do Evangelho.
Jesus veio não só para salvar os pecadores, para associá-los à sua obra redentora.
Jesus chamou homens simples, rudes, desprovidos de dotes humanos, e nisso brilha sua bondade. Mas Jesus foi mais longe: chamou também homens desprovidos de virtudes, de qualidades espirituais, como este Mateus, o publicano. E aqui brilha ainda mais sua misericórdia.
S. Beda, o venerável, ao comentar a vocação de S. Mateus, faz uma reflexão muito interessante sobre o modo como Jesus olhou para S. Mateus. Diz assim: “Quia miserando atque eligendo vidit, ait: ‘Sequere-Me’”.
Miserando atque eligendo vidit, isto é, Jesus olhou (vidit) para são Mateus compadecendo-se dele (miserando) e escolhendo-o (eligendo), e assim o chamou.
Na vocação de todos os apóstolos, aparece este detalhe do olhar de Jesus. Olhar que se compadece, olhar que escolhe, que elege, que chama.
Pois bem, este frase de S. Beda foi escolhida pelo então Bispo auxiliar de Buenos Aires, Dom Jorge Mario Bergoglio como seu lema episcopal, lema que ele conservou depois como Arcebispo e agora como sumo Pontífice.
Por que o Papa gosta tanto desta passagem? Porque ele nos fala tanto da misericórdia?
Porque foi exatamente no dia S. Mateus, que quando tinha 17 anos, ele passou em frente a uma igreja e quis se confessar, e naquela confissão
aconteceu o “miserando atque eligendo” de S. Beda, pois o jovem Bergoglio saiu daquela igreja com uma decisão tomada: ia ser padre. A Misericórdia de Deus o tocou de modo tão forte que foi algo irresistível, como ele já partilhou várias vezes.
Não pode ser coincidência que isso tenha acontecido justamente na festa de S. Mateus.
De modo que o olhar de Jesus que se compadece e chama da história de S. Mateus se repetiu na história de Bergoglio.
E podemos ir mais longe e dizer que esta história já se repetiu, repete-se e se repetirá ainda muitas vezes, tantas quantos forem os escolhidos por Cristo para trabalharem em seu reino.
Todos nós poderíamos nos sentar no telônio de Mateus, porque somos pecadores, e a todos nós que fomos escolhidos, Jesus nos olhou, “miserando atque eligendo”.
Assim foi com Mateus, assim foi com Bergoglio. Mudam os que são chamados, mas a misericórdia do Senhor permanece eternamente.
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