Sto. Afonso Maria de Ligório
Consideremos os elevados fins que nossa Mãe, a Santa Igreja, teve em mira pela instituição da Festa do Santíssimo Sacramento com oitava solene. Com todo esse esplendor de missas, procissões e outros exercícios piedosos, ela quer tributar a Seu Divino Esposo um tríplice preito: de veneração, de gratidão e de reparação.
Um preito de veneração, para compensar-Lhe de algum modo o estado de aniquilamento e humilhação a que se quis sujeitar, e ainda se sujeita, continuamente para ficar conosco sobre os altares. Onde, na palavra de S. Bernardo, esconde sua divindade, esconde também sua humanidade, só deixando ver as aparências do pão para, assim, patentear a ternura do amor que nos tem: Latet divinitas, latet humanitas, sola patent viscera caritatis.
Quis a Igreja também tributar a Jesus Cristo um preito de gratidão, por um dom tão grande, no qual fez o supremo esforço de seu amor para com os homens. O Esposo, diz S. Pedro de Alcântara, para consolar a sua Esposa durante a sua longa ausência, quis dar-lhe uma companhia e instituiu este Sacramento, no qual reside em pessoa: era a melhor que lhe podia dar do seu amor. Justo, pois, era que a Igreja excitasse os fiéis, seus filhos, por uma solenidade especial a agradecerem a Jesus sua amorosa presença e a venerarem com afetos de gratidão.
Finalmente, com a festa de hoje, a Igreja quer tributar a Jesus um preito de reparação, a fim de o desagravar de antas ofensas que Ele recebe continuamente neste divino Sacramento. A Igreja vê que a maior parte dos homens recusa adora-Lo e reconhece-Lo pelo que é neste adorável mistério. Sabe que mais de uma vez esses mesmos homens chegaram a calcar aos pés as hóstias consagradas, a lançarem-nas ao lodo, à água ou às chamas. O que mais a aflige é ver que também a maior parte dos que crêem na Eucaristia, em vez de repararem tantos ultrajes por testemunhos de respeito e piedade, vem aumentar a dor de Jesus pelas suas irreverências nas igrejas ou deixam-no só sobre o altar, desprovido, por vezes de lâmpada e dos ornamentos mais indispensáveis. Oh, que negra ingratidão!
Meu irmão, procura ao espírito da Igreja e tributa a Jesus o tríplice preito de veneração, de gratidão e de reparação, assistindo com fé as missas e outros exercícios piedosos, aproximando-te da Santa Comunhão e visitando-o nestes dias com mais freqüência.
+ Senhor meu, Jesus Cristo, que por amor dos homens ficais dia e noite no Sacramento do Altar, onde cheio todo de misericórdia e bondade, chamais e acolheis todos os que Vos vem visitar. Eu creio que estais presente neste Sacramento. Desde o abismo do meu nada Vos adoro e graças vos dou por todos os benefícios que me tendes feito, especialmente porque Vos destes a mim neste Sacramento, me concedestes por advogada vossa Mãe, a Santíssima Virgem Maria, e me chamastes a Vos visitar nesta Igreja. Saúdo hoje o vosso Coração amantíssimo e quero sauda-lo por três fins: 1-em reconhecimento deste grande dom; 2-em reparação de todos os ultrajes que dos vossos inimigos tendes recebido neste Sacramento; 3-na intenção de Vos adorar, por esta visita, em todos os lugares do mundo onde sois menos reverenciado e mais abandonado neste Sacramento. Amo-vos meu Jesus, de todo o meu coração. Pesa-me de ter no passado desagradado tantas vezes Vossa bondade infinita. Proponho, com o socorro da Vossa graça, não vos ofender mais no futuro. E, nesta hora, miserável como sou, me consagro todo a Vós: eu Vos dou e sacrifico minha vontade, meus desejos e todos os meus interesses. Doravante fazei de mim e de tudo o que é meu o que for do Vosso agrado. Somente peço e quero o Vosso santo amor, a perseverança final e a graça de cumprir perfeitamente a Vossa vontade. Recomendo-vos as almas do purgatório, principalmente as mais devotas do Santíssimo Sacramento e de Maria Santíssima. Recomendo-vos também todos os pobres pecadores. Enfim, amadíssimo Salvador meu, uno os meus afetos aos afetos do Vosso Coração amantíssimo e , assim unidos, ofereço-os a Vosso Eterno Pai, pedindo-lhe, em Vosso nome que por vosso amor se digne de aceitar e atender.
(Extraído de Meditações para todos os dias e festas do ano, tomo II, Santo Afonso Maria de Ligório)
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