Importância do Silêncio

Dom Fernando Arêas Rifan*​

Durante esta semana, o clero da Diocese de Campos e da Administração Apostólica estará fazendo o seu retiro espiritual anual. São dias de silêncio, recolhimento, oração e reflexão.

Os padres, que se dedicam ao ministério da salvação das almas, totalmente consagrados ao serviço do povo, administrando os sacramentos, visitando as famílias, aconselhando as pessoas, organizando as diversas pastorais, acolhendo e escutando os que necessitam, socorrendo os necessitados, administrando suas paróquias, eles também precisam cuidar da própria alma, consagrando algum tempo especial, além do que já fazem ordinariamente, ao silêncio e à oração, à sua própria vida interior enfim, para não se esgotarem espiritual e psicologicamente, e crescendo na sua vida de união com Deus.

Uma importante lição encontramos na passagem evangélica de Betânia, aquela chácara dos amigos de Jesus, Lázaro, Marta e Maria, onde ele gostava de se recolher e descansar. Marta é o protótipo da ação, da vida ativa, da atividade zelosa. Maria é o modelo do silêncio e da contemplação: “Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em casa. Ela tinha uma irmã, Maria, que sentada aos pés do Senhor, ouvia sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. Aproximou-se e disse: ‘Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Dize-lhe que me ajude!’ O Senhor, porém, lhe respondeu: ‘Marta, Marta! Tu andas preocupada e agitada por muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10, 38-42).

Essa necessidade da oração, da escuta da palavra de Deus, do silêncio e do recolhimento, é importante para a vida espiritual de todos os cristãos, não só dos padres.

Diz o precioso livro “A Imitação de Cristo”: “Procura tempo oportuno para cuidar de ti e pensa, frequentemente, nos benefícios de Deus… Os maiores santos evitavam, quanto podiam, a convivência dos homens, preferindo viver a sós com Deus. Disse alguém: ‘Sempre que estive entre os homens menos homem voltei’. No silêncio e no sossego aperfeiçoa-se a alma devota e penetra os segredos das Escrituras”.

Jesus também, no meio do seu cansativo ministério com os apóstolos, convidava-os também a descansar e se recolher um pouco: “Os apóstolos se reuniram com Jesus e lhe contaram tudo quanto haviam feito e ensinado. Ele disse-lhes: ‘Vinde, vós sozinhos, para um lugar deserto e descansai um pouco’… Foram, então, sozinhos, de barco, para um lugar deserto” (Mc 6, 30-32).

Moisés também, antes de receber as tábuas da Lei, fez um retiro de quarenta dias. Jesus fez o mesmo, no deserto, antes de começar a sua vida pública.

“O barulho não faz bem, e o bem não faz barulho” (S. Francisco de Sales).

“O silêncio é também a linguagem de Deus. Parte-se do silêncio e chega-se à caridade para com os outros” (Papa Francisco).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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