Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini
“Não separe o homem o que Deus uniu”. (Mc 10, 9)
A Cruz, o Padre e a Missa são três mistérios inseparáveis. Estes três mistérios estão intimamente unidos, tão unidos que podemos acomodar a eles a palavra da Escritura : “Não separe o homem o que Deus uniu”. (Mc 10, 9)
Falemos de cada um deles
A Cruz
Diz o livro da Imitação de Cristo: “In Cruce Salus”, “na Cruz está a salvação.” Sim, porque na Cruz está Jesus, nossa Salvação.
Não devemos nos fazer ilusões, temos necessidade da Cruz. Fora da Cruz não há salvação. In Cruce Salus.
Mas em qual cruz está a salvação?
Vamos ao Calvário. Lá encontraremos três cruzes, três modos de encarar e viver o sofrimento:
– A Cruz do Inocente que sofre pelos pecadores: Jesus.
– A cruz do penitente que sofre resignado em expiação de seus próprios pecados: o Bom Ladrão.
– A cruz do revoltado contra Deus, contra o sofrimento: o mau ladrão.
A salvação não está na revolta do mau ladrão, mas sim na paciência de Jesus e na resignação do Bom Ladrão. A salvação está na Cruz de Jesus como fonte, como causa, como modelo de nossa Salvação; na do Bom ladrão como meio.
Assim também para nós:
Da Cruz de Jesus nos vêm todas as graças de que precisamos para nos salvar, e é também para nós um modelo de como temos que enfrentar os sofrimentos.
A nossa cruz (como a do Bom Ladrão) é um meio para chegarmos ao céu.
Todos nós temos que sofrer, o importante é saber sofrer. Soframos como o bom ladrão. Aceitemos as cruzes que Deus nos enviar.
Que jamais imitemos o mau ladrão no sofrimento.
O Padre
Podemos resumir o que é o padre nas palavras – ousadas – de S. João Maria Vianney: “Depois de Deus, o sacerdote é tudo.”
Tudo. Saibamos dar valor ao sacerdote. O padre dá sua vida por nós. Deixa de constituir uma família, para se consagrar inteiramente a Deus e às almas.
O sacerdote continua nesta terra a missão do próprio Jesus.
Agradeçamos a N. Senhor pelos padres que Ele já nos deu e peçamos-lhe que nos envie mais vocações.
Dizia também S. João Maria Vianney: “Quando se quer destruir a Religião, começa-se por destruir o Sacerdote.”
Isso explica a resistência que às vezes o sacerdote encontra em seu ministério e o porquê de tantos ataques contra o sacerdócio.
A Missa
Que seria o mundo sem a Santa Missa!?
Na Missa, é o próprio Jesus que pede por nós.
É através da Santa Missa que as graças descem do céu à terra.
A Missa é a renovação do Sacrifício do Calvário. E, às vezes, pelo nosso modo de participar da Missa, nós nos encarregamos de tornar mais literal, (digamos assim) esta renovação.
Três grupos de pessoas na Primeira Missa:
– Os piedosos com Nossa Senhora, Santa Madalena, S. João, as Santas mulheres.
– Os irreverentes, e até inimigos da Cruz de Cristo, como aqueles judeus que estavam no Calvário, que gritavam, faziam zombarias, insultavam a Jesus.
– Os curiosos, aqueles que estavam lá no Calvário só para ver o que ia acontecer, ou como tudo iria terminar, talvez até com o intuito de presenciar algum milagre retumbante.
Assim acontece muitas vezes nas Missas. Estão aqueles que chegam a ser irreverentes no modo como se comportam durante a Santa Missa e como tratam o Santíssimo. Aqui entram também os que voluntariamente se aproximam da Sagrada Comunhão sabendo que não estão no estado de graça, os que estão na Santa Missa e continuam alimentando em seu coração o apego ao pecado, os que não querem mudar de vida. Como disse o Papa Francisco, os corruptos.
Há também nas nossas Missas os curiosos . Vão à Missa para ver quem foi, para se encontrarem com os amigos, etc.
Mas há também os piedosos, os que participam da Santa Missa imitando os sentimentos do Coração de Jesus, de Nossa Senhora ao pé da Cruz, dos santos.
Sejamos deste grupo. Saibamos dar valor à Santa Missa, participando dela sempre que pudermos.
A união destes três mistérios: Cruz, Padre, Missa
Como vimos acima, “na Cruz está a salvação,” porque na Cruz está Jesus, nossa Salvação.
E como a Santa Missa não é outra coisa que a renovação do Sacrifício da Cruz, também da Missa podemos dizer: “In Missa salus”, na Santa Missa está a Salvação.
E o Sacerdote é ordenado sobretudo para a Santa Missa, portanto, para renovar o sacrifício da Cruz, é ordenado então para a Cruz. Logo também do padre podemos dizer: “In sacerdote salus”, no sacerdote está a salvação.
Nós não podemos de modo algum separar estes três mistérios, pois, se o fizermos, eles perdem sua razão de ser:
Nós não podemos separar a Missa da Cruz.
Se tirarmos da Santa Missa tudo o que se refere ao Calvário, portanto ao Sacrifício de Cristo, vamos esvaziar a Missa. Ela então se tornaria se torna uma mera lembrança de algo que já passou, ou se uma simples reunião dos fiéis, ou uma espécie de ceia. Por isto, não separemos o que Deus uniu. Renovemos sempre nossa fé no Sacrifício do altar, tenhamos sempre presente sua união inseparável com a Cruz.
Não podemos separar o Padre da Cruz.
A mãe de São João Bosco disse para ele no dia de sua ordenação que “começar a dizer Missa é começar a sofrer”.
Não que ser padre seja um sofrimento para a pessoa, mas que, como o padre é discípulo e ministro de Cristo, ele precisa se unir ao Seu Mestre e Senhor na Redenção da humanidade, aceitando de bom grado os sacrifícios que Deus pedir dele. Por isso o ministério sacerdotal é sempre marcado pela cruz. E um padre sem a Cruz é um soldado sem armas, é uma incoerência, quase que uma deformidade da natureza. A vida do padre deve girar em torno da Cruz. Todos os gestos litúrgicos que o padre realiza são acompanhados do sinal da cruz. A Liturgia muitas vezes manda que o padre beije a cruz, abençoe com a cruz, se benza com a cruz, etc. A sua própria vida não tem sentido sem a Cruz.
Não podemos, em fim, separar o Padre da Missa.
O Padre não é ordenado primeiramente para ser cantor, ser um homem da mídia, para ser um excelente administrador, um professor, etc. Existe uma relação inseparável entre o Padre e a Missa. Portanto ela está no essencial da vida do padre. Não pode, pois, ficar relegada a uma mera obrigação, ou ser considerada um incômodo no dia do padre. Tudo o que sacerdote faz, ou é uma preparação, ou uma consequência de sua Missa.
A Missa não é uma das atividades do padre, é a principal finalidade de seu sacerdócio.
Conclusão
Amemos a Santa Missa.
Saibamos dar valor ao Sacerdote. Agradeçamos a Deus pelos padres que ele já nos concedeu e peçamos a Nosso Senhor que nos envie muitas vocações, vocações em número proporcionado às nossas necessidades.
Enfim, saibamos levar a cruz, como o bom Ladrão. Com paciência, com resignação, como propiciação pelos nossos pecados.
Não separemos o que Deus uniu. Lembremo-nos sempre: na cruz está a Salvação. Se quisermos, pois, salvar nossa alma, abracemos a Cruz. Para que na hora de nossa morte, Jesus possa nos dizer o mesmo que ele disse ao Bom Ladrão: “Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso.”
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