Para minha diocese no Amazonas

Certo dia veio uma Senhora do grupo de liturgia e pediu que eu cedesse a réplica da imagem de N. Senhora Aparecida para expô-la durante o Ano Mariano na Catedral de Humaitá. Em 2015, esta imagem havia percorrido a Diocese toda sendo recebida com muita alegria até pelos indígenas Parintintins que a têm como padroeira de sua aldeia.

Depois, devolvi a imagem na Assembleia dos Bispos em 2016. Pedi que pudesse leva-la de novo para minha diocese no Amazonas. Concordaram. Coloquei a imagem na modesta capela de minha casa (do Bispo). Lá ela ficou – com seu perene sorriso, toda introvertida, mas de olhar dirigido para longe – no tempo e no espaço; postura firme. Sempre quando entrava e saia da capela – uma saudação especial para ‘a Mãe do meu Senhor’.

Diante do pedido daquela Senhora não hesitei em prometer a entrega da imagem durante uma celebração dominical. Certamente, senti a ‘entrega’, pois aquela imagem havia se tornado para mim mais familiar do que as outras imagens da Senhora de Nazaré e de todos os lares.

Carrega consigo os milhões de pedidos e súplicas de Brasileiros, pobres e ricos, crianças e anciãos, enfermos e mutilados, escravos e senhores de fazendas, até de políticos de todos os tempos. Mas também recorda as inúmeras graças e bênçãos que Deus derramou durante trezentos anos sobre este imenso país que, com tantos problemas que tem, já teria afundado num caos – se não fosse a presença de Deus dentro de tantas pessoas boas e na nossa exuberante natureza.

Marcamos o domingo e o horário da S. Missa. Uma mulher (que arranjara e enfeitara ricamente o suporte e a vitrine para acolher a imagem) iria carregar a imagem à frente da procissão de entrada. Chegando ao presbitério eu receberia a imagem para coloca-la na vitrine. Depois eu pronunciaria algumas palavras de explicação deste singelo gesto. – Tudo foi feito como planejado. Na hora da colocação na vitrine, a assembleia se comoveu, bateu palmas e cantou.

O carinho com Nossa Senhora Aparecida vem deveras bem do fundo do coração dos féis.

Elas (nós) sentem que Maria não é ‘enfeite folclórico’, uma decoração ou uma ‘montagem’ da Igreja Católica para segurar os féis pelas emoções e pelo sentimentalismo. Maria é inseparável do Filho e da Missão dele. A mãe está presente no filho. – Eis uma lei biológica e psicológica. E no caso de Maria vem ainda um dado profundamente espiritual (‘Minha alma engradece ao Senhor…’), pois ela – incrível pensar – moldou também a espiritualidade do seu filho, Filho do Altíssimo. Não pode haver dúvidas: Maria está associada ao mistério de Jesus Cristo como nenhuma outra pessoa da história.

Durante aquela S. Missa, a imagem girou, iluminada, iluminadora, no meio de muitas flores e ainda de mais pessoas que dirigiram suas preces por ela aos céus. Oxalá, o Ano Mariano seja um prolongamento do Ano da Misericórdia com força para transformar nossas realidades.

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Meinrad Francisco Merkel, CSSp Bispo de Humaitá – AMAZÔNIA

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