Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini.
Com o batismo de Jesus, inicia-se a sua missão. E o Espírito Santo o conduz para o deserto.
O recolhimento interior precede à ação.
A missão é descer até os perigos dos homens para salvá-los, para encontrar a ovelha perdida.
“Desceu aos infernos”, rezamos no Credo. Nas tentações de Jesus, isso também acontece.
Unida às tentações está a agonia de Jesus no Horto.
Ele começa seu ministério sendo tentado pelo Demônio e o termina da mesma forma.
As tentações condensam de certo modo toda a vida de Jesus.
A tentação
Pertence ao núcleo da tentação tentar colocar Deus de lado, como supérfluo, incômodo. E também convida-nos, não para o mal diretamente, mas pretende mostrar o que parece ser melhor para nós.
A tentação quer nos fazer pensar que real é aquilo que aparece (poder, dinheiro, prazer) e que as coisas de Deus são um mundo irreal, secundário.
A tentação em Jesus foi puramente exterior.
Em nós, nem sempre será assim. Ao convite externo, vem uma atração interna. Em Jesus, não.
“Depois de 40 dias, teve fome”.
O número 40 possui um conteúdo simbólico muito rico:
– lembra-nos os 40 anos no deserto (tempo da tentação de Israel e também tempos de especial proximidade com Deus).
– lembra-nos os 40 dias que Moisés passou no mente Sinai (para receber a Lei)
– lembra-nos 40 dias de jejum de Abraão enquanto levava seu filho para ser imolado.
As tentações
Jesus foi tentado três vezes: e nas suas tentações, ele nos ensina como lidar com a tentação.
Primeira tentação: “Transforma estas pedras em pães”.
O convite do corpo.
O demônio se aproveita da fome de Jesus.
Mas Nosso Senhor responde com prontidão: “nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.
O que podemos aprender aqui?
Às vezes nosso corpo pode querer pedir uma trégua, seja quanto ao alimento, seja quanto à castidade. “Você já fez tanto, você já reza tanto, você já se priva de tanta coisa”. A tentação tenta nos mostrar enganosamente o que é melhor para nós.
Como vencer: com Deus.
O melhor para nós, o que nos sustenta, não é o que nosso corpo pede, mas o que vem da boca de Deus, das promessas de Deus, dos ensinamentos de Deus.
Segunda tentação: “Lança-te daqui abaixo”.
Seria algo portentoso, espetacular, ver Jesus descer voando, carregado pelos anjos, e chegar ao meio do templo lotado de gente.
O que o demônio queria?
Duas possíveis coisas:
– Matar Jesus, enganando-o com as palavras do Salmo 90 que ele cita.
– Mudar os planos de Deus e fazer Jesus começar sua missão de um modo extraordinário, ou seja, o demônio queria insuflar a soberba em Jesus.
O que aprendemos daqui?
O demônio gosta de ações grandiosas, porque elas facilmente corrompem as intenções de quem as realiza.
O espetacular muitas vezes não exige tanto sacrifício como o ordinário.
Nosso Senhor se lançou, não do Pináculo do templo, mas do céu até a terra, ele se humilhou. E neste salto escondido e humilhante, aí sim, os anjos vieram para protegê-lo.
Aqui podemos refletir sobre nossa vida no Seminário.
Talvez nós gostaríamos de encontrar elementos visivelmente extraordinários em nossa vocação, em nossa vida. Talvez nós gostaríamos de fazer coisas grandes, grandes penitências, ser extraordinários no estudo. E vemos nossa vida tão sem graça, humanamente falando, tão monótona.
É assim que Nosso Senhor quer que nós nos preparemos. Vida escondida, nada de pular do pináculo do Templo, mas viver escondidos com Deus).
Terceira tentação: “Tudo isso te darei”.
Aqui o demônio tenta Jesus pela ambição, pelo desejo de possuir, de ter.
O mundo hoje repete continuamente este convite: as propagandas por toda parte, estão dizendo para as pessoas: tudo isso te darei se… você tiver dinheiro. Então o dinheiro se torna algo querido em si mesmo. Torna-se a finalidade da vida das pessoas. Torna-se Deus.
Para nós existe também este perigo: querermos sempre o que há de melhor, não nos contentarmos com as coisas simples. Coitados de nossos pais. Cada telefonema, cada encontro é para pedir alguma coisa.
Tudo isso te darei: é também o que ás vezes o demônio nos diz quando, por exemplo, vem o desânimo.
O seminarista sobe na montanha da sua imaginação e começa a contemplar a faculdade que ele poderia já estar fazendo, ou talvez até terminando. E o demônio diz: tudo isso te darei… A moça que já seria talvez a sua noiva. E o demônio repete: tudo isso te darei… A sua casa, seu carro, seu emprego. E o demônio, pai da mentira vai, dizendo: tudo isso te darei.
E se nós comparamos nossa vida com estes sonhos, aí então é que o demônio aproveita: levantar cedo, trabalhar, fica aqui no meio deste canavial… em Campos… O demônio nos diz: “Você merece coisas melhores e tudo isso te darei.”
O problema é que o demônio sempre põe um “se”. É claro que ele não vai nos pedir para adorá-lo, ele só pede que abandonemos o que estamos fazendo, porque ele sabe o que é melhor para nós.
A resposta de Nosso Senhor: só a Deus adorarás e só a Ele servirás. Nossa felicidade sempre vai estar ligada com nossa fidelidade.
O demônio promete como pai da mentira. Deus promete como aquele é fiel.
O demônio nos mostra o que podemos desejar e promete dar tudo.
Deus nos mostra tudo que o deixamos e promete cem vezes mais e depois a vida eterna.
Conclusão:
“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus…e prepara a tua alma para a provação.” (Eclesiástico, 2, 1)
Os anjos vierem e lhe serviam.
O demônio é o pai da mentira.
Deus é fiel.
A escolha, portanto é muito fácil.
Aprendamos de Nosso Senhor como lidar com a tentação.
Recorramos a Nossa Senhora, ela foi aquela que não teve parte com o demônio, aquela que, junto com seu Filho, esmagou a cabeça do demônio.
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