“Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao Céu; que possa também subir com Ele o nosso coração!”
Tudo se iniciou Galileia. Lá o Verbo fez-se carne, habitou entre nós, e nesse fato toda história redentora se radica, se fundamenta, se inicia. Agora, naquilo que parece ser ao menos o fim da missão terrena, física, do Verbo encarnado, voltamos à Galileia.
Jerusalém sempre foi entendida como figura do Céu, cidade Santa, cidade do Altíssimo, morada de Deus. A Galileia no entanto, era zona limítrofe da Palestina, longe de Jerusalém. Uma terra de grande altitude, rica em montanhas, mas de um terreno predominantemente rochoso. A Galileia parece figurar a humanidade nos limites do abismo, longe de Deus, longe do Céu.
O homem, que superior aos animais, é chamado à comunhão com Deus, pouco abaixo dos anjos como canta o salmista, parece figurado na grande altitude e na riqueza de montanhas. Contudo, depois do pecado, em contraposição ao Paraíso, terra frutífera, cheia de ricos frutos, o homem parece melhor explicado e figurado por um terreno rochoso e infértil, como o da Galileia.
É na Galileia que o Verbo se encarna, manifestando que veio salvar o que estava perdido, trazer de volta os extraviados, aqueles que se encontravam tão longe de Deus. Se fez Filho do Homem para nos transformar em filhos de Deus. Veio morar, habitar na nossa terra para nos transportar à sua morada, a habitação celestial. Deus se rebaixou, se humilhou, foi tão longe para nos buscar. E agora, voltando à Galileia para subir ao Céu, parece nos indicar que de lá existe um acesso ao Céu. A humanidade, nós homens, já não estamos tão longe assim, estamos próximos do Céu, nós temos acesso ao Céu, acesso garantido. No dizer de São Leão Magno: hoje nós fomos confirmados como possuidores do Céu. E aqui está o fundamento da alegria deste mistério celebrado, como catava o salmista indo para Jerusalém, figura do Céu, nós podemos cantar cheios de alegria: “nós vamos à casa do Senhor”.
Nós caminhamos pro Céu, nós temos acesso ao Céu. As portas do Céu estão abertas para nós. Todos nós, com Adão, por causa do pecado fomos expulsos do Paraíso, nos distanciamos de Deus. Agora, todos nós, com o novo Adão, podemos voltar para casa, estamos reconciliados com Deus, que novamente é próximo a nós, é um de nós. Não estamos perdidos, não somos expulsos, não somos inimigos, somos amigos, somos filhos de Deus, e o Céu é nosso.
Se soma ainda a essa alegria, a da certeza do Céu, de acesso ao Céu, uma mais profunda alegria: que com Ele nós adentramos já ao céu, “nós subimos com Ele” (dizia Sto. Agostinho). Poderíamos nós dividir Cristo? Por causa da unidade de nós com Cristo, da Cabeça com os membros, nós também já adentramos ao Céu, pois nos garante o Apóstolo: “Cristo é um só, formado por muitos membros”. Então onde está Cristo estamos nós. Oh! Dignidade dos homens que ultrapassa os coros angélicos e adentra as altitudes mais elevadas do Céu! Essa é, essa precisa ser a nossa alegria, a nossa esperança, a nossa razão de viver.
E quando os contratempos, os males tão diversos da vida presente nos desanimarem, nos angustiarem, lembremos que o inverso também é tão verdadeiro: onde estamos nós, está Cristo! Ele se foi, mas permanece; Ele se afastou mas está tão presente. Já não existe abismos entre o Céu e a Terra, não existe distância entre o homem e Deus.
Somos homens, somos cristãos, somos Cristo! Estamos na Terra, caminhamos na Terra estando no Céu! Vivamos de Cristo, vivamos da sua vida, vivamos da sua graça, na sua graça. E assim, com os pés aqui na terra, tenhamos o coração e a mente no Céu, e que assim seja até à plenitude. Santa Maria, Esperança Nossa, rogai por nós!
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