Dom Fernando Arêas Rifan*

Na Sagrada Escritura, a Bíblia, uma verdadeira biblioteca de livros inspirados por Deus, temos, entre outros, os livros sapienciais, cheios de sabedoria, como diz o próprio nome: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Sirácida.
O livro de Jó é uma narrativa didática, baseada na “história” de Jó, onde aprendemos a paciência ou resiliência, a sabedoria de Deus e nosso comportamento diante dele.

Jó era um homem riquíssimo, que sofreu uma grande provação: por permissão de Deus, perdeu os seus bens e sua saúde. Ele tudo suportou com paciência: “Nu, saí do ventre de minha mãe e nu, voltarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do agrado do Senhor, assim aconteceu. Bendito seja o Nome do Senhor!” (Jó 1, 21).

E, para aumentar seu sofrimento, sua mulher, ao invés de servir-lhe de amparo e consolo, como deve fazer toda esposa na hora da dor do marido, pisava ainda mais sobre o pobre sofredor: “Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre!” Jó lhe respondeu:… ‘Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?’ E com tudo isso, Jó não pecou com seus lábios” (Jó 2, 9-10). < /p>

E para maior sofrimento de Jó, os amigos que vieram visita-lo, aumentaram sua dor como suas perguntas sobre o sofrimento de um inocente.
O livro de Jó é uma grande reflexão sobre o sofrimento e sua razão de ser, perguntas que sempre inquietam o ser humano.

O Papa São João Paulo II procura explicar “quanto é importante a pergunta sobre o sentido do sofrimento e com que acuidade se devam tratar, quer a mesma pergunta, quer as possíveis respostas a dar-lhe. O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento. A pergunta encontrou a sua expressão mais viva no Livro de Jó”…

Diante dos argumentos dos seus amigos, “Jó contesta a verdade do princípio que identifica o sofrimento com o castigo do pecado; e faz isso baseando-se na própria situação pessoal. Ele, efetivamente, tem consciência de não ter merecido semelhante castigo; e, por outro lado, vai expondo o bem que praticou durante a sua vida. Por fim, o próprio Deus desaprova os amigos de Jó pelas suas acusações e reconhece que Jó não é culpado.

O seu sofrimento é o de um inocente: deve ser aceite como um mistério, que o homem não está em condições de entender totalmente com a sua inteligência”.

“O Livro de Job não é a última palavra da Revelação sobre este tema. É um anúncio, de certo modo, da Paixão de Cristo… O Amor é ainda a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento. Esta resposta foi dada por Deus ao homem na Cruz de Jesus Cristo” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, 11).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

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