Dom Fernando Arêas Rifan*
A tragédia recente do submersível Titan da OceanGate trouxe de novo ao imaginário popular o naufrágio do Titanic da White Star Line, com 2201 passageiros a bordo, o navio insubmergível (“inafundável”), considerado o mais luxuoso e seguro da sua época, que infelizmente naufragou no oceano Atlântico, em 14/15 de abril de 1912. A história do naufrágio todos já conhecem. O que nos interessa hoje são as lições que disso podemos tirar.
Esse terrível naufrágio foi resultado de uma série de imprudências, que tiveram grandes consequências. Aproveitemos a ocasião para discorrer sobre essa importantíssima virtude cristã, como nos ensina o Catecismo.
Prudência é uma das virtudes cardeais, ou seja, básicas e direcionais. “É ela que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de atingi-lo. “O homem prudente vigia os seus passos” (Pr 14, 15). “Sede ponderados e comedidos…” (1 Pe 4, 7). A prudência é a “reta norma da ação”, escreve Santo Tomás seguindo Aristóteles. Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada “auriga virtutum – condutor das virtudes”, porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar”.
A prudência supõe a humildade em ouvir as advertências recebidas, contra o orgulho de acharmos que sempre estamos certos, apesar das observações contrárias. A soberba é a mãe da imprudência. O orgulho levou a tripulação do Titanic a achar que, sendo insubmergível, como se supunha, não eram necessárias todas as precauções necessárias para evitar um possível desastre. A tranquilidade e o ambiente de alegria reinavam entre os passageiros, com uma atmosfera de festas contínuas. Estamos no ano de 1912, no fim da Belle Epoque, que era uma época de prazer, alegria e distensão, nesse maior navio do mundo. E considerado o mais seguro, uma verdadeira obra prima de segurança, devido aos seus compartimentos estanques.
Às nove horas da manhã de domingo, dia 12, o operador de rádio do navio recebeu a primeira mensagem do navio Coronia, advertindo sobre importantes massas de gelo flutuante. Mais adiante, outro navio, o California, enviou um telegrama, comunicação de rádio, advertindo. O operador do Titanic participava do otimismo geral e não deu importância, por achar que vinha de um navio de segunda classe. Às 13h42m, outro navio, o Valtic, advertia sobre massas de gelo, Icebergs, na direção do Titanic. Advertências não levadas a sério. Aí o inesperado aconteceu. O resto sabemos pela história. Hoje o Titanic jaz no fundo do oceano, sepultura de milhares de passageiros. A tragédia do Titanic nos ensina muitas coisas: excesso de otimismo ilusório e imprudência, o símbolo de uma situação à beira do perigo.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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