OS MÁRTIRES

Dom Fernando Arêas Rifan*

Mártir é uma palavra grega que significa testemunha. “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas… até os confins da terra” (At 1,8), disse Jesus aos seus discípulos ao se despedir deles, no dia da sua Ascenção aos céus. E essa denominação de mártir se aplica, sobretudo, àqueles que testemunharam a favor do Mestre até ao derramamento do seu sangue. “Todo aquele, pois, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante do meu Pai que está nos céus” (Mt 10, 32).

A Igreja tem muitos mártires da fé e das virtudes cristãs. No começo da Igreja, nos três primeiros séculos de perseguições, milhares de cristãos derramaram o seu sangue em testemunho da sua fé. E assim também no decurso dos séculos. Em nossa pátria também.

Hoje celebramos os primeiros mártires do Brasil, o Bem-aventurado Inácio de Azevedo e seus 39 companheiros mártires. Inácio foi enviado ao Brasil por São Francisco de Borja, então geral da Companhia de Jesus, para inspecionar as missões. A evangelização do Brasil já havia começado há apenas 16 anos, mas a Companhia de Jesus, já havia catequizado sete tribos do interior e no litoral possuía escolas e seminários. Em seu relatório, Inácio pedia reforços. São Francisco de Borja ordenou-lhe que recrutasse religiosos em Portugal e na Espanha. Após cinco meses de exercícios religiosos e preparativos, partiram, a 5 de junho de 1570. Inácio de Azevedo e 39 companheiros, no navio São Tiago, acompanhados de outros num barco de guerra comandado por Dom Luiz de Vasconcelos, então governador do Brasil.

​Passaram pela Ilha da Madeira e depois pelas Canárias. Quando alcançaram o alto-mar, foram abordados por corsários franceses calvinistas que tinham como objetivo capturar os jesuítas. O Padre Inácio de Azevedo mandou reunir os missionários, rezaram as ladainhas dos santos e disse-lhes: “Irmãos, preparemo-nos todos, porque hoje, neste dia, haveremos de ir povoar o céu. Ponhamo-nos todos em oração e façamos de conta que esta é a última hora que temos de vida”. Os missionários disseram em alta voz: “Senhor, faça-se em mim a vossa Santíssima Vontade. Senhor, aqui estou para tudo quanto Vós de mim quiserdes…”. Os franceses invadiram o navio. O comandante Jacques Sória brada: “Mata! Mata! porque vão semear doutrina falsa no Brasil”. O Padre Inácio de Azevedo gritava: “Irmãos, defendei a fé de Cristo! Pela Fé Católica e pela Igreja Romana”. Ao ser atingido, exclamou: “Filhos, não temais. Deus fez-me vosso pastor. Bem é que o pastor vá à frente das ovelhas. Eu vou adiante preparar-vos o lugar”.

Estes foram os primeiros missionários que derramaram o seu sangue em testemunho de Jesus e da sua fé, que viriam pregar no Brasil. Assim, o sangue deles, mesmo sem terem chegado até aqui, serviu de testemunho para que a fé católica se implantasse aqui na terra de Santa Cruz e se propagasse admiravelmente. “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

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